sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A falsa propaganda do agronegócio e sua aliança de classe


"Nos últimos anos, os meios de comunicação brasileiros, principalmente os grandes jornais e as televisões, têm feito propaganda sistemática em favor do modelo do agronegócio, como se fosse a salvação do Brasil. Colocam-no como o responsável pelo crescimento de nossa economia, pela geração de empregos, por uma agricultura moderna e pela produção de alimentos.

Todos esses argumentos utilizados na propaganda não se sustentam em uma análise mais rigorosa:

O agronegócio é responsável pelo crescimento econômico do PIB: as atividades agrícolas propriamente ditas, lavoura e pecuária, correspondem a apenas 12% de toda a produção nacional. Então, mesmo que a agricultura dobre o valor ou o volume de produção, sua influência na economia total é muito pequena. Os propagandistas do agronegócio costumam misturar a agricultura com agroindústria, para dizer que o peso na economia aumenta para 37%. Mesmo assim, o peso e o crescimento da agroindústria não dependem da área cultivada, mas do mercado consumidor. Se o povo da cidade tiver dinheiro para comprar mais alimentos, aumenta a agroindústria no Brasil. Portanto, seu sucesso depende do valor do salário mínimo e da distribuição de renda nos centros urbanos.

O agronegócio é responsável pelo sucesso da indústria: nada mais fantasioso. No final da década de 1970 e início da década de 1980, no auge da agricultura subordinada à indústria e com crédito fácil para expandir a industrialização da lavoura, cerca de 65 mil tratores eram vendidos por ano, de todos os tipos. Passaram-se 30 anos, implantou-se o agronegócio do neoliberalismo e a venda de máquinas em 2004, no auge do sucesso apregoado, foi de apenas 37 mil unidades. As indústrias tiveram de vender outras 35 mil unidades para o exterior para não falirem. Pior: pelos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no último censo, as fazendas com mais de 2 mil hectares tinham no seu patrimônio apenas 35 mil tratores. Por outro lado, as pequenas propriedades, com menos de 200 hectares, tinham mais de 500 mil tratores.

O agronegócio tomou conta da agricultura brasileira: se o agronegócio fosse tão bom, por que não aumenta a área cultivada no Brasil? Desde a década de 1980, a área total cultivada com lavoura temporária não passa de 45 milhões de hectares.

O agronegócio é a atividade que gera emprego no meio rural: pelos dados do IBGE, nas fazendas acima de 2 mil hectares há apenas 350 mil trabalhadores assalariados. Bem menos do que os 900 mil assalariados que a pequena propriedade emprega. Ou seja, o modo de produzir da fazenda do agronegócio, que se moderniza permanentemente, expulsa mão-de-obra do campo, ao invés de gerar emprego aos trabalhadores.

O agronegócio distribui renda no campo: a escravidão no campo continua e os lucros se restringem aos proprietários das fazendas.

O agronegócio significa desenvolvimento dos municípios e das economias locais: em todas as regiões nas quais predominam as fazendas do agronegócio, a renda dos latifúndios é levada para os grandes centros. Seja porque a maior parte do seu custo de produção (máquinas, venenos, sementes) vem de outros centros e, portanto, ao pagar esses custos, o dinheiro volta para lá; seja porque o seu proprietário raramente vive na cidade em que se localiza a fazenda. Em geral, ele mora nos grandes centros e, portanto, quanto aufere seu lucro com as exportações, aplica em consumo de luxo, apartamentos, etc. Sequer o "rancho" para seus empregados é adquirido no comércio local, sendo comprado, em geral, em centros mais distantes, onde os preços são menores. Por isso, as cidades dominadas pelo agronegócio, ao contrário de se desenvolverem, sofrem com o inchaço provocado pelo êxodo rural, aumentando a pobreza de suas periferias. Cenário completamente distinto dos locais em que predomina a policultura, a produção de alimentos e a pequena agricultura, que mantém e faz girar toda a riqueza no próprio município.
Se essas informações são oficiais e de fato as fazendas do agronegócio não representam solução para os problemas agrícolas e sociais brasileiros, por que então se faz tanta propaganda? Por uma questão ideológica. Está em curso na sociedade brasileira uma disputa de modelo econômico e de produção agrícola. As fazendas do agronegócio representam a parcela da burguesia nacional que possui ativos na agricultura e que se aliou, ou melhor, que se subordinou ao capital estrangeiro representado pelos interesses das grandes empresas transnacionais. Essas empresas não só têm participação no lucro obtido do comércio agrícola internacional e das agroindústrias, como mantém fortes laços econômicos e ideológicos com as empresas de comunicação de massas. Está em curso uma tríplice aliança entre os fazendeiros do agronegócio, as empresas transnacionais que controlam a agricultura e as empresas de comunicação.

Apenas 10 transnacionais têm o controle monopólico das principais atividades agrícolas do país. São elas: Bunge, Cargill, Monsanto, Nestlé, Danone, Basf, ADM, Bayer, Sygenta e Norvartis. Basta olhar seus comerciais nas televisões e ver o seu grau de envolvimento com a mídia."

Fonte: http://resistir.info/brasil/agronegocio.html#2

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